segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Simplesmente sei...

Já não penso no porquê. Cansei-me! E a eternidade é demasiado tempo para se pensar sempre na mesma coisa. Rendi-me ao evidente: terei de começar de novo.
Os meus únicos entreténs são a janela gradeada e ela.
Da janela gradeada vejo ao longe o horizonte. A serra colorida contrastando com o céu azul.
O céu ali era sempre azul... Apareciam algumas nuvens, muito de tempo a tempo: chuviscava um pouco durante meio dia e depois o sol voltava. Não era um sol quente, mas um sol reconfortante.
Talvez fosse por isso que tudo ali floria, desde a planta mais simples à flor mais chamejante.
Tenho pena que aquilo apenas esteja ao alcance do meu olhar... Contudo, até ontem, não me sentia culpado por isso. Cultivava até alguma raiva contra o mundo, porque considerava uma injustiça o que me acontecera. Como poderiam esperar que eu não errasse se me obrigavam a esquecer tudo o que aprendera? Ter de voltar um dia e passar por tudo de novo... Para quê? Para voltar para ali?! Para passar mais uma parte da eternidade num calabouço e desejar ridiculamente que chegasse aquela hora do dia, aquele momento em que ela vinha...
Todos os dias uma rapariga muito bonita e alegre aproximava-se dos muros do Cárcere. Nunca lhe perguntara o nome, não parecia ser importante. Conversavam longas horas... Conversavam sobre tudo e sobre nada. Era o momento alto do dia.
Ela já não viria mais...
«Vou encarnar numa linda bebé!», dissera-lhe feliz.. «Não tens medo de errar, novamente?», perguntei-lhe de imediato, e fi-lo porque tinha muito medo de errar mais uma vez e, simplesmente, não sabia como evitá-lo. A resposta dela deixara-o estupefacto: «Só tenho de saber seguir a minha intuição, escutar a vozinha da consciência. Nós nunca esquecemos aquilo que aprendemos, apenas está adormecido numa parte do cérebro humano. Se soubermos escutar-nos teremos sempre sucesso.». E partira com um sorriso enorme no rosto...
Fiquei triste, sozinho de novo, apenas com a paisagem que só os meus olhos podiam tocar, como agora o faziam. Talvez ela tivesse aprendido a lição... Eu continuo sem saber, em concreto, aquilo a que ela se referia. «Vozinhas ?! Deixa-me rir!».
Mas sinto-me de novo com esperança, algo renasceu em mim, porque sei, simplesmente sei, que ela tem razão...

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